Prevalência de doença hepática crônica após tratamento quimioterápico de neoplasias do trato gastrointestinal em uma clínica de referência em Salvador – Bahia

Abstract

A toxicidade hepática induzida por quimioterapia (QT) (CALI), particularmente 5-fluorouracil (5-FU), oxaliplatina e irinotecano, tem sido cada vez mais descrita. Apesar da relação bem documentada na literatura, não existem estudos que avaliem a prevalência de doença hepática crônica (DHC) em pacientes portadores de neoplasias do trato gastrointestinal (TGI) tratados com QT. Esse estudo visa investigar a prevalência da DHC após o tratamento quimioterápico nos pacientes portadores de neoplasia do TGI, em uma clínica de referência em Salvador, Bahia, assim como os fatores de risco e morbi-mortalidade relacionada a DHC. Foram investigados retrospectivamente dados clínicos, radiológicos, endoscópicos e histológicos de DHC em todos os pacientes com idade > 18 anos, sem DHC previamente documentada em prontuário por dados clínicos ou exames antes do início do tratamento oncológico, submetidos a QT por neoplasias do TGI no período de janeiro de 2017 a janeiro de 2022 que apresentassem sobrevida superior a 12 meses. Elastografia hepática transitória (EHT) foi ofertada a todos os sobreviventes para avaliação adicional de DHC. 328 pacientes (165 homens, média de idade 64+13 anos) de uma amostra inicial de 607 indivíduos com neoplasia do TGI, a maioria com neoplasia colorretal (58%), preencheram critérios de inclusão para participação no estudo. Todos foram submetidos a mediana de 15,5 (8-28) ciclos de QT com esquemas incluindo oxaliplatina (86%), 5-FU (76%), irinotecano (49%), capecitabina (43%) e outros agentes (51,5%). Ocorrência de DHC foi observada em 47 (14,3%) pacientes. O uso do 5-FU (89% vs. 73% dos pacientes sem DHC, p=0,018), irinotecano (66% vs. 46% dos pacientes sem DHC, p=0,011), número de quimioterápicos empregados (4 vs. 3, p=0,002) e número de ciclos de QT (21 vs. 13 dos pacientes sem DHC, p=0,05) se correlacionaram significantemente com evolução para DHC. Não foi observada correlação entre DHC e mortalidade. 125 (38%) pacientes faleceram, mas apenas um por complicações de DHC. EHT foi realizada em 17 pacientes, porém nenhum apresentou elastograma superior a 15KPa. DHC foi observada em um percentual considerável de pacientes submetidos a QT para tratamento de neoplasias de TGI, entretanto, sua ocorrência não teve impacto na mortalidade.