Correlação entre o diagnóstico clínico pré-operatório da cirrose e a análise anatomo-patológica pós-operatória do fígado explantado

Abstract

INTRODUÇÃO: A cirrose hepática é uma condição irreversível que frequentemente leva à necessidade de transplante hepático (TH). Cerca de 25% dos pacientes em lista de espera para TH apresentam cirrose criptogênica (CC), cuja etiologia pode permanecer desconhecida mesmo após investigação clínica. Na América do Norte, a esteatohepatite associada à Doença Hepática Gordurosa Associada ao Metabolismo (MAFLD) é a principal causa de CC. No Brasil, esses dados ainda são limitados, o que destaca a necessidade de estudos adicionais. A análise histopatológica do fígado explantado após o TH pode esclarecer a etiologia subjacente. OBJETIVOS: Avaliar a frequência de MAFLD como causa de CC e a correlação entre o diagnóstico clínico pré-operatório e o diagnóstico anátomo-patológico pós-operatório. MÉTODOS: Estudo observacional descritivo com dados de prontuários de pacientes submetidos a TH em um centro de referência na Bahia, entre 2001 e 2021. A correlação entre o diagnóstico clínico pré-transplante e o diagnóstico histológico pós-transplante foi analisada. Pacientes com CC e sem histórico de consumo abusivo de álcool foram investigados para MAFLD com base em marcadores histológicos de esteatohepatite ou fatores de risco metabólicos (obesidade, sobrepeso e/ou diabetes tipo 2) na ausência de outras causas. RESULTADOS: Foram analisados 437 pacientes (337 homens, idade: 51,52 ± 13,16 anos), dos quais 54,7% apresentaram fatores de risco para a MAFLD, submetidos a TH, principalmente por hepatite C (33%), doença alcoólica do fígado (DAF) (22,2%), CC (11,2%) e MAFLD (4,6%). A infecção por VHC (33,4%) foi a principal causa de cirrose identificada após análise anátomo-patológica, seguida por DAF (19,6%), DAF associada a VHC (6,2%) e MAFLD (6,2%). Após análise histopatológica a correlação clínico-patológica foi observada em 87,7% dos casos, e 51% dos casos de CC foram reclassificados, particularmente para cirrose hepática de padrão biliar (n=7), venopatia porta obliterativa (n=5), colangite esclerosante primária (n=4) e hemocromatose (n=4). CONCLUSÕES: A análise histopatológica dos fígados explantados mostrou-se fundamental para esclarecer os diagnósticos de cirrose hepática em pacientes submetidos a TH. A correlação entre achados clínicos e histológicos foi observada na maioria dos pacientes sem CC, enquanto 51% dos pacientes com CC tiveram a etiologia alterada após reavaliação. Ao preencher uma lacuna sobre a epidemiologia da cirrose no estado, o estudo contribui para futuras intervenções voltadas à realidade local e à saúde pública.