Abordagens metabolômicas aplicadas ao estudo do câncer do colo do útero – uma revisão sistemática

Abstract

O câncer do colo do útero (CCU) tem como principal causa a infecção persistente pelo Papiloma Vírus Humano (HPV). Atualmente é a quarta causa de câncer entre as mulheres no mundo, sendo uma importante condição de agravo a saúde feminina. A metabolômica, nesse contexto, surge como uma nova ferramenta capaz de descrever metabólitos envolvidos com o desenvolvimento do CCU, sugerir biomarcadores que auxiliem no diagnóstico e prognóstico, e gerar novos caminhos terapêuticos para esta doença. Objetivos: Analisar sistematicamente as abordagens metabolômicas no estudo do câncer do colo do útero, presentes na literatura. Métodos: A revisão, conduzida segundo as diretrizes PRISMA e registrada no PROSPERO (CRD42020215301), foi baseada na busca de estudos disponíveis nas bases de dados MEDLINE/PubMed, SciELO, LILACS, BVS e nas literatura cinza (Google Scholar e Open Gray) até outubro/2020. Como descritores foram utilizados os termos do Medical Subject Headings (MeSH) e do Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) correspondentes a “Metabolomics” e “Cervical Cancer”. A análise da qualidade dos artigos foi baseada nos critérios do QUADOMICS uma adaptação do Quality Assessment of Diagnostic Accuracy Assessment (QUADAS). Resultados: Um total de 14 artigos foram selecionados para revisão sistemática. As amostras contaram com 410 pacientes com CCU e 427 compuseram o grupo controle. A avaliação dos estudos através do QUADOMICS gerou resultados heterogêneos, 5 artigos atingiram mais de 80% dos critérios e 4 menos de 54%. De forma geral 68 metabólitos foram mencionados como relevantes no contexto do CCU, destes os mais mencionados foram alanina, β-glicose, creatina e o lactato. Os aminoácidos, em sua maioria, foram descritos como diminuídos nas pacientes com câncer cervical e alterações nas vias de metabolismo energético foram observadas. Oito artigos testaram a capacidade diagnóstica da metabolômica, obtendo resultados para sensibilidade >90%, especificidade entre 73% e 99% e AUC entre 0.78 e 0.99. Conclusão: As abordagens metabolômicas no estudo do CCU descrevem um panorama em que o sangue foi o principal tipo de amostra biológica utilizada e a espectrometria de massa a plataforma analítica elencada pela maioria dos trabalhos. Os principais metabolitos, encontrados na presente revisão, associados ao câncer cervical foram a alanina, creatina, valina, tirosina, isoleucina, fosfatidilcolina, acetato, lactato e β-glicose. Sugerindo um perfil metabolômico relacionado com alterações no metabolismo de vias energéticas, de aminoácidos e dos glicerolfosfolipídios, apontando para um potencial grupo de biomarcadores específicos em pacientes com câncer cervical.