Efeito do acompanhamento multiprofissional no controle do excesso de peso em mulheres obesas: uma coorte retrospectiva

Abstract

O tema obesidade vem sendo discutido com mais ênfase nos últimos anos devido não só ao aumento do número de obesos no Brasil e no mundo, mas também a ampliação do conhecimento médico em relação aos efeitos indesejados que essa condição pode gerar. Visando conter o seu avanço, é necessário adotar estratégias eficazes para controlar o aumento de peso e as taxas metabólicas e, consequentemente, adiar o aparecimento de doenças diretamente relacionadas, como diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica. Acredita-se que uma equipe formada por profissionais de diversas áreas da saúde seria um ponto fundamental para o êxito. Objetivo: Avaliar o efeito do acompanhamento multiprofissional no controle do excesso de peso, perfil glicêmico, lipídico e pressão arterial em mulheres obesas atendidas em ambulatório multiprofissional especializado do SUS. Metodologia: Estudo de Coorte retrospectiva realizado através da revisão de prontuários de mulheres acompanhadas por equipe multiprofissional no ambulatório para estudo da Obesidade (PEPE), no momento do primeiro e último atendimento, com intervalo mínimo de 1 ano entre eles. Os dados de peso, IMC, tensão arterial e exames laboratoriais (glicemia, hemoglobina glicada, triglicérides, colesterol total e frações) obtidos forão analisados através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) v. 25. Resultados: Foi estudada uma amostra de 140 pacientes do sexo feminino, havendo um predomínio de mulheres pardas e negras, que cursaram até o 2º grau e que possuem uma renda média de 1,8 salário-mínimo. Encontrou-se uma população com alta predominância de comorbidades como síndrome metabólica (81,9%), diabetes mellitus (16,5%), pré-diabetes (26,8%), hipertensão arterial sistêmica (56,1%), hipertrigliceridemia (29,8%) e hipercolesterolemia (50,4%). Ao final do acompanhamento 29,9% das pacientes apresentaram 5% de perda de peso. Já a média do peso na população toda não se mostrou diferente (91,1 [80,8-102,6] vs. 91,3 [80,3-103,4], p = 0,697). Observou-se que houve uma melhora dos valores de tensão arterial sistólica (138 [128-153] vs. 132 [120-144,5], p = 0,007), diastólica (88 [79,6-95,5] vs. 80 [74-87,7], p < 0,001), hemoglobina glicada (6,6 [6-7,4] vs. 6,1 [5,6-6,8], p = 0,006), colesterol total (196 [171-226] vs. 183 [164-211], p < 0,001), LDLColesterol (122,4 [101,4-152,2] vs. 113,4 [92,1-136,4], p < 0,001) e HDL-Colesterol (44,35 ± 9,8 vs. 54,2 ± 57,4, p = 0,013) , que ocorreu independente da perda de peso. Além disso, notouse que houve uma correlação inversa entre o tempo de acompanhamento e os níveis do IMC, colesterol e LDL da última consulta: IMC (r= - 0,196, p = 0,03), Colesterol Total (-0,295, p =0,001) e LDL-Colesterol (-0,352, p < 0,001). Conclusão: O acompanhamento multiprofissional contribuiu para melhora do perfil pressórico, lipídico e glicêmico das mulheres selecionadas, independente da perda de peso e a duração do acompanhamento impactou na melhora do IMC, colesterol e LDLc.