Análise da constipação funcional em mulheres com neoplasia intraeptelial de alto grau e carcinoma invasivo do colo uterino em centro oncológico de referência

Abstract

Introdução: O câncer de colo uterino é a terceira neoplasia mais comum entre mulheres do território brasileiro. Na população com câncer a prevalência de constipação é maior do que na população em geral, seja pelos efeitos do tratamento e pelo uso de medicações sabidamente indutores de constipação, sendo uma condição erroneamente tida como trivial, mas que pode ter impacto significativo na qualidade de vida das pacientes com câncer de colo uterino. Objetivo: Avaliar a frequência e a intensidade da constipação em mulheres com neoplasia intraepitelial de alto grau (NIC) e carcinoma invasivo de colo de útero (CCU). Metodologia: Estudo observacional, transversal e analítico, com coleta de dados utilizando o critério de Roma IV, o Escore de Constipação Cleveland Clinic (ECCC) e o Incontinence Questionnaire Overactive Bladder (ICIQ-OAB), e voltada para a análise da frequência, intensidade da constipação e sintomas associados em mulheres com NIC3 e CCU, bem como o impacto dessa condição no cotidiano das pacientes. Resultados: Foram avaliadas 153 pacientes com diagnóstico de NIC3 e CCU submetidas ou não a tratamento, 54(35,3%) dessas pacientes apresentando constipação, com 33 dessas possuindo diagnóstico de NIC3, representando 33,3% das pacientes com esse diagnóstico, e 21 com diagnóstico de CCU, representando 38,9% das pacientes com esse diagnóstico. Foi observado uma mediana de 3(IIQ 2-5) itens do critério de Roma IV positivos dentre as pacientes constipadas, sendo o item “Fezes irregulares ou endurecidas o mais frequente, estando presente em 41(75,9%) das pacientes constipadas. Foi percebida relação entre presença de constipação e uso de medicações antálgicas (p valor=0,021), não sendo identificado relação entre o diagnóstico de NIC3 e CCU com desenvolvimento de constipação (p valor=0,492). Foi mensurado o impacto da constipação no cotidiano das pacientes que preencheram o critério de Roma IV, utilizando uma escala visual-analógica (EVA), evidenciando uma mediana de 7,5(IIQ 4,75-9), não relação entre a pontuação no EVA e o diagnóstico de NIC3 ou CCU [7(IIQ 3-9) X 8(IIQ 5-9,5), p valor=0,536), porém com ambos os grupos apresentando escore da EVA ≥ 7. Foi observada forte relação positiva entre as variáveis “Pontuação no EVA” e “Número de itens do critério Roma IV positivos” (Coeficiente de correlação de Spearman=0,783 e p valor<0,001). De mesmo modo, foi notado moderada correlação entre a pontuação no ECCC e pontuação no EVA (Coeficiente de correlação de Spearman=0,332 e p valor=0,026). Conclusão: A constipação demonstrou relevante impacto na qualidade de vida, independente do grau de invasão da lesão cancerígena, não devendo esta ser considerada uma condição trivial. Ademais, o uso de medicações antálgicas demonstrou ser um fator preponderante para o desenvolvimento de quadros de constipação, e que o tumor não atua como fator determinante, somente sendo mais um dos elementos que compõem a gama de fatores que influenciam na evolução desses quadros.