Conhecimentos antirracistas de internos de medicina voltados para o combate às iniquidades em saúde da população negra “o perigo de uma história única”

Abstract

Introdução: Apesar de documentos oficiais no campo da educação médica e da saúde pública voltados para o combate das iniquidades em saúde da população negra já vigorarem no Brasil, dados epidemiológicos apontam lacunas assistenciais com essa minoria social, reflexo - em parte - de uma formação lacunar quanto a transmissão de conhecimentos antirracistas e o possível desenvolvimento de competências capazes de lidar com as reais demandas de saúde da população negra. Objetivo: O estudo tem por objetivo descrever a aquisição de conhecimentos antirracistas voltados para o combate às iniquidades em saúde da população negra por parte dos internos de medicina da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) em Salvador-BA. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, realizada na EBMSP. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, através da plataforma digital Zoom.US, com discentes de medicina do 9° ao 12° semestre que aceitaram participar da pesquisa, até uma quantidade suficiente para atingir a saturação dos dados colhidos. As entrevistas foram gravadas, transcritas e os dados obtidos foram submetidos ao método de análise de conteúdo na modalidade temática. Resultados e discussão: foram realizadas 6 entrevistas, e delas, surgiram 5 categorias temáticas, nomeadas: Interseccionalidade; Perfil racial dos(das) pacientes e quesito raça/cor da pele; Conhecimentos acerca da saúde da população negra; Desconhecimentos acerca da PNSIPN e diretrizes curriculares sobre a saúde da população negra; e Impactos do racismo estrutural e do racismo institucional em saúde, sendo que a última categoria possui subcategorias, nomeadas: percepção do racismo por parte dos estudantes; impactos do racismo para a saúde dos(das) pacientes e impactos do racismo para a formação em medicina. Considerações finais: foi percebido um feedback positivo dos discentes, chamando atenção para o interesse em saber mais formas de não reproduzir práticas racistas, além de evidenciar o acesso limitado a conteúdos sobre a população negra até o semestre que haviam cursado, as lacunas formativas provenientes disso e as manifestações racistas que advém desse processo nas instituições de ensino e de assistência à saúde.