Mortalidade de pacientes portadores de covid-19 que realizaram hemodiálise por lesão renal aguda

Abstract

Introdução: A lesão renal aguda (LRA) é uma complicação comum dentre casos severos de COVID-19, com altas taxas de mortalidade sendo descritas na literatura. Contudo, ainda existe escassez de dados referentes à mortalidade de pacientes com LRA que realizaram terapia de suporte renal (TSR), especialmente no tocante ao cenário brasileiro. Objetivos: Descrever a taxa de mortalidade de pacientes com LRA tratados com TSR (LRA-TSR) associada à COVID-19 em uma unidade de terapia intensiva e analisar se existem fatores que podem impactar no prognóstico desses pacientes. Métodos: Estudo descritivo-analítico de coorte retrospectiva. Incluímos todos os pacientes com LRA-TSR em uma unidade de terapia intensiva de um único hospital privado de atenção terciária, na cidade de Salvador, Bahia, Brasil, entre 1 de abril de 2020 e 20 de julho de 2021. Um diagnóstico de COVID-19 requereu um teste positivo de transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase. Excluímos pacientes com menos de 18 anos de idade, pacientes com doença renal crônica dialítica e casos em que a LRA precedeu a infecção por COVID-19. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e está alinhado com a Declaração de Helsinki. Resultados: Um total de 100 de 1479 pacientes (6,7%) foi envolvido nesse estudo após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. A amostra desse estudo tem uma idade mediana de 74.5 anos (IIQ 64 – 82) e é predominantemente masculina (59%). Das comorbidades pesquisadas, foram notados altos níveis de prevalência de hipertensão arterial sistêmica (76%) e diabetes mellitus (56%). Ainda, 19% dos pacientes tinham história prévia de doença cardíaca e 16% eram obesos. No tocante ao estado respiratório, 85% dos pacientes estavam em ventilação mecânica invasiva no momento de indicação da primeira sessão de TSR. Além disso, 71% estavam em uso de drogas vasoativas no momento de primeira indicação de TSR. Os resultados dos exames laboratoriais desses pacientes, coletados antes da primeira sessão de TSR, foram notáveis por baixos níveis de hemoglobina (média de 10.2 + 2.2 mg/dL) e altos níveis de lactato sérico (mediana de 2.4, IIQ 1.7 – 3.1 mmol/L), fósforo sérico (mediana de 5.8, IIQ 4.3 – 7.7 mg/dL), ureia sérica (média de 240.1 + 78.9 mg/dL) e creatinina sérica (mediana de 3.3, IIQ 2.2 – 4,7 mg/dL). Adicionalmente, pacientes que desenvolvem LRA-TSR tinham altos níveis de D-dímero (mediana de 3.3, IIQ 1.7 – 7.2 mcg/dL), proteína C-reativa (mediana de 6.2, IIQ 3.8 – 18.5 mg/dL) e troponina I (mediana de 0.15, IQR 0.1 – 0.5 ng/mL). A mortalidade de pacientes com LRA-TSR associada à COVID-19 foi de 93%. Foi notado que 81 das 93 mortes (87%) ocorreram nos primeiros dias de início do quadro de LRA-TSR e que o tempo mediano em LRATSR foi de 3 dias (IIQ 2 – 7). A análise multivariada com uso de regressão logística não mostrou associação entre as variáveis mencionadas e o desfecho morte. Conclusão: A mortalidade de pacientes com LRA-TSR associada à COVID-19 é alta.