Projeto glaucoma perfil dos pacientes atendidos em um serviço de referência, Salvador-ba.

Abstract

Introdução: O glaucoma representa a maior causa de cegueira irreversível do mundo. É uma doença crônica e incapacitante, em que as taxas de abandono do tratamento chegam a 25%. Esse estudo avalia o perfil do paciente atendido do projeto glaucoma oferecido por um serviço de referência em Salvador- Ba, observando o grau de satisfação dos pacientes. Objetivo: Avaliar o perfil e satisfação dos pacientes atendidos no projeto glaucoma, oferecido por um serviço de referência na cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Metodologia: Estudo transversal de caráter descritivo, entrevistas foram conduzidas aplicando um questionário para pacientes portadores de glaucoma, inscritos no projeto, em um serviço de referência na cidade de Salvador, Bahia, no período de dezembro/2017 a fevereiro/2018. Os resultados foram apresentados através de tabelas e gráficos; as variáveis categóricas foram expressas em valores absolutos e porcentagens - n (%). Para as variáveis contínuas com distribuição normal foram utilizadas medidas de tendência central (média) e dispersão (desvio padrão), e para aquelas com distribuição assimétrica foram utilizadas as medidas de mediana e intervalo interquartil. Resultados: A amostra foi composta por 355 pacientes com idade de 65.5 ± 11.4 anos, com maior frequência do sexo feminino 220 (62%). 319 (91.9%) pacientes eram pardos e negros, 335(94,3%) tinham uma renda familiar entre 1 a 3 salários mínimos e uma alta frequência de pacientes apresentou uma baixa escolaridade; apenas 13 pacientes tinham ensino superior completo (3,7%), enquanto 147(41,7%) pacientes tinham ensino médio ou fundamental incompletos e 40 (11,4%) pacientes sabiam apenas assinar o nome. A mediana de satisfação com o programa foi de 99 (90,0-100,0), quantificada por meio de uma escala visual analógica (EVA). 348 (99,4%) pacientes relataram confiança nos profissionais que trabalhavam no serviço, 341 (96,3%) descreveram a conduta do médico como boa ou muito boa e 290(82,7%) relataram saber nada ou muito pouco sobre o glaucoma. Mais de 90% dos pacientes relataram que o fato de estarem matriculados no projeto incentivou o uso dos colírios com maior disciplina, e melhor conhecimento da doença. 349(98,9%) apresentaram uma frequência de retorno referida a cada 4 meses. Todos os pacientes relataram usar algum tipo de colírio para controlar seu glaucoma; 299 (84,2%) relataram usar análogos de prostaglandinas, 309 (87%) faziam uso de 1 ou 2 colírios para controle do glaucoma. Apenas 31(8,9%) dos pacientes já tinham se submetido a cirurgia antiglaucomatosa, e 44(12,5%) a cirurgia a laser. 174 (49,2%) pacientes tiveram interesse em questionar o valor da PIO (pressão intraocular) aferido na sua última consulta e sabiam relatar o valor desta. O grupo de pacientes que sabiam o valor da PIO, apresentaram uma maior renda familiar e um maior nível de escolaridade com valor de p (0,015) e (0,002), respectivamente. Um total de 257 pacientes (72,38%) relatou ter medo de ficar cego (“Medo da cegueira, medo do perigo de cegueira, medo de perder a visão”). Conclusão: As informações obtidas evidenciaram uma elevada frequência de pacientes pardos e negros, com baixa renda familiar e baixa escolaridade. Todos os pacientes matriculados no projeto utilizavam colírio hipotensor para controle da PIO, com um percentual elevado do uso de análogos de prostaglandinas e uma frequência baixa de cirurgia antiglaucomatosa. A frequência de retorno referida foi bastante elevada, assim como o uso correto dos colírios prescritos. Uma alta satisfação com o serviço foi observada, com relato de benefícios e contribuições para o controle do glaucoma. O medo da cegueira aparece como um transtorno emocional muito prevalente, o que pode ter uma correlação com o baixo conhecimento do glaucoma relatado por esses pacientes. A avaliação de outros serviços que oferecem esse programa deve ser realizada, com o objetivo de documentar a sua eficiência na prevenção da cegueira pelo glaucoma, doença tão incapacitante e prevalente em nossa sociedade.