Aterosclerose coronária em pacientes diabéticos e não diabéticos internados com síndrome coronariana aguda

Abstract

INTRODUÇÃO: Diabetes mellitus é um fator de risco independente para doença arterial coronariana. A principal forma de diabetes é a diabetes mellitus do tipo 2 (DM2), e é conhecidamente associada a doença arterial coronariana (DAC). Isso se deve à íntima relação que essa doença estabelece com fatores de risco para DAC, bem como a relação causal com a estenose coronariana que ainda não é muito bem estabelecida. Portanto, entende-se o potencial do DM2 de acarretar piores desfechos cardiovasculares de forma multifatorial. OBJETIVOS: Questionar de modo quantitativo como a DM2 interfere em lesões coronarianas em síndromes coronarianas agudas. MÉTODOS: Trata-se de um estudo observacional descritivo com coleta de dados em prontuários de uma unidade de terapia intensiva cardiológica em um hospital filantrópico em Salvador/Bahia. As variáveis clínicas foram: idade, sexo, dados laboratoriais, exames complementares e comorbidades associadas. Os pacientes foram divididos nos grupos DM2 e Não DM2 e tiveram suas lesões coronárias quantificadas através dos critérios adaptados de Bogaty e Manfroi – oclusão, severidade e extensão. A análise estatística uni variada foi realizada com o teste do Qui quadrado e teste t de student. O projeto foi aprovado através do parecer nº 3649500 em 18/10/2019. RESULTADOS: Entre abril de 2019 e agosto de 2022, foram avaliados 193 pacientes consecutivos com diagnóstico de SCA. Dentre estes, 43,5% eram do sexo masculino, com uma com média de idade de (72,3±15,9) anos. Constatou-se que 43,5% do grupo DM2 possuiu IMC elevado, enquanto o grupo Não DM2 apresentou 56,5% de obesidade. No grupo diabetes, 73 (24,4%) pacientes eram hipertensos prévios, ao passo que no grupo não portador, 84 pacientes (15,3%) possuíam hipertensão (p=0,019). Pacientes diabéticos apresentaram mais hipercolesterolemia (89%), quando comparados aos não diabéticos (75,6%) (p=0,005). Pacientes do grupo DM2 apresentaram maior proporção de insuficiência cardíaca (57,3%), em comparação ao grupo Não DM2 (36,9%) (p=0,035). As médias de troponina foram de (15,98 ± 43,8) no grupo Não DM2 e de (8,08±20,4) no grupo DM2. Os níveis de colesterol total tiveram média de (168,2±102,4) para o grupo DM2, e de (180,3±44,3) para o grupo não portador. Os níveis de HDL sérico tiveram média de (43,93±14,39) no grupo diabetes e de (47,2±14,74) no grupo não diabetes. As médias de LDL foram maiores no grupo Não DM2, sendo de (108,97±39,06), e de (82,78±38,48) no grupo DM2 (p=0,001). A oclusão coronária ocorreu em 12 (20,3%) pacientes do grupo DM2, e em 13 (16,3%) dos pacientes do grupo Não DM2 (p=0,656). Quanto à severidade das oclusões, os pacientes do grupo DM2 apresentaram maior número de artérias com mais de 50% de comprometimento (86,2%) quando comparado com o grupo Não DM2 (70%) (p=0,097). À análise score de extensão, o grupo DM2 apresentou média de 1,9, ao passo que a média do score do grupo Não DM2 foi de 1,35 (p=0,022). CONCLUSÃO: Neste projeto, insuficiência cardíaca, hipercolesterolemia e hipertensão foram relacionadas à DM2 em pacientes com doença arterial coronariana. Este trabalho, ainda, possibilita compreender estatisticamente que as lesões obstrutivas coronárias são mais extensas em pacientes portadores de DM2, quando comparados aos saudáveis.